Quem decide nomes de ruas, sítios e prémios importantes tem boas intensões. Contudo torna mortos célebres ou ilustres o nome duma rua, dum sítio ou dum prémio. Por vezes, para gente sóbria e com nomes menos sonantes, dá-se-lhe uma salinha secundária de teatro onde supostamente cultos convivem com gente que se engana.
Alguém se lembra do António que foi presidente do conselho de ministros do reino, militar e tantas outras coisas? Talvez a Maria Josefa se lembre do António, do António Maria. Uns quantos mais, talvez por razões profissionais ou de sanidade, se lembrem do Fontes Pereira de Melo, presidente do conselho de ministros do reino, militar, engenheiro. Talvez... Muitos mais se lembram da rua ou avenida Fontes Pereira de Melo, do sítio, da confusão de trânsito.
É pior com os Aguiares. Joaquim António de Aguiar, e António Augusto de Aguiar são avenidas grandes com paragens de autocarro. Joaquim e António Augusto ficaram nomes para distinguir sítios e confundir gente.
José malhoa parece que foi pintor, mas todos conhecem o outro, o artista, e a filha do artista.
Não há ruas José Silva que interessem. Há tantos José Silva e João Silva e José Costa e nenhum foi importante, porquê?!
Gostava de me revelar ao lado da mulher que contasse comigo a métrica dos meus passos, a cadência e a decadência dos meus passos.
A mulher que soubesse querer pensar num PPR, meu, dela ou dos dois, como fosse menor o risco.
Gostava que a mulher do PPR fosse um investimento seguro e me segurasse nos dias maus ou nos dias em que tento escrever, como hoje. E que gostasse de gostar de mim.
Em troca... Talvez um PPR bem escolhido e a minha revelação exclusiva e pertinente.
Foi num dia de chuva, num carro lento pela marginal. A Dona Esperança, de esperanças, decidiu que seria naquele dia, naquela hora de névoas e impasses, a olhar um vale que só ela sabia existir. O menino vai chamar-se Valdemar.
Confundiu toda a gente: desde fãs da atlântida a ninfas sem pastagem. As ninfas são vegetarianas, como é do conhecimento geral.
Baralhou os literatos e os amantes de novelas de cordel com barcos e baleias grandes.
A dona Esperança não conhecia mágicos estrangeiros nem mestres.
A dona Esperança viu um vale, no mar. O marido, sem grande esperança, anuiu.
Página em branco, ficheiro em branco, documento em branco... Por algum motivo burocrático o vazio criativo é branco quando tudo o mais que é ruim e vazio é um vazio escuro. O vazio branco é um vazio cheio de todas as coisas e de todas as cores, e ainda assim chamam-lhe vazio. Farto-me. O vazio escuro é um quarto escuro da criança e dos seus terrores, um quarto que se preenche todo com uma luz de presença pequena e barata.
Quero estar e saber estar aborrecido. Cheio de mim e dos meus vazios até ressacar muito e mal. Quero ficar doente das coisas todas que tenho para fazer, para sempre, ou até ao próximo fim-de-semana que é um sempre mais fácil. Preciso de encher o que me faltar na ressaca de paisagens novas, novas todos os dias. Até podem ser cubos e sons.
Quero aborrecer-me para me obrigar a ser coisas de que ainda não me fartei. E fazer coisas de que ainda não me fartei ou não sei que me fartei até as ter. E talvez queira estar com quem ainda não me fartei por razões meio meta, meio físicas.
Fosse eu poeta e desfiava isto em linhas assimétricas e propositadamente instáveis. Chamar-lhe-ia verso livre e o mundo encher-me-ia este vazio todo de intensão.