Meta Vazio
Página em branco, ficheiro em branco, documento em branco... Por algum motivo burocrático o vazio criativo é branco quando tudo o mais que é ruim e vazio é um vazio escuro. O vazio branco é um vazio cheio de todas as coisas e de todas as cores, e ainda assim chamam-lhe vazio. Farto-me. O vazio escuro é um quarto escuro da criança e dos seus terrores, um quarto que se preenche todo com uma luz de presença pequena e barata.
Quero estar e saber estar aborrecido. Cheio de mim e dos meus vazios até ressacar muito e mal. Quero ficar doente das coisas todas que tenho para fazer, para sempre, ou até ao próximo fim-de-semana que é um sempre mais fácil. Preciso de encher o que me faltar na ressaca de paisagens novas, novas todos os dias. Até podem ser cubos e sons.
Quero aborrecer-me para me obrigar a ser coisas de que ainda não me fartei. E fazer coisas de que ainda não me fartei ou não sei que me fartei até as ter. E talvez queira estar com quem ainda não me fartei por razões meio meta, meio físicas.
Fosse eu poeta e desfiava isto em linhas assimétricas e propositadamente instáveis. Chamar-lhe-ia verso livre e o mundo encher-me-ia este vazio todo de intensão.
Mas não.