Identidade e família Capítulo I

Neste primeiro capítulo, o relativamente conhecido psiquiatra Pedro Afonso disserta sobre o papel da família na educação e intervenção do estado. A tese, que me quer parecer não ser muito diferente do que virá noutros capítulos, funciona mais ou menos assim: o estado não tem que interferir na educação das crianças e esse é o papel da família, desde que seja uma família “tradicional” que transmita valores da moral cristã e dos bons costumes. É um argumento que em teoria começa bem: a família serve de suporte fundamentar para educar os pequenitos e o estado não é para aqui chamado porque cada um educa como quer. Excepto se… bem, antigamente o estado educava à bruta – é ler a cartilha – e impunha a moral e a religião cristãs, eventualmente bons costumes, e isso nunca foi um problema… Aliás, para pessoas como os autores deste livro, tal nunca pareceu tão grave como a actual doutrinação das tais ideologias de género com que o Pedro Afonso também nos brinda, para fim de capítulo; mais uma vez o drama, o horror, e o juízo final nas aulas de cidadania. O estado faz tanta coisa e diz tanta coisa aos meninos, mas isto é que de facto é o fi da humanidade em ideologia, e a família de idiotas heróis de trazer por casa cujos meninos chumbaram a cidadania até foi citada, a par do papa e do DSM. O “killer-argument” deste senhor contra a tal ideologia de género é que não tem base científica. Ele lá saberá disso, todavia encanita-me que a tese dele (ou antítese? Não sei) comece se fundamentar no papa Francisco.

Este capítulo tem algumas pérolas interessantes, ainda assim. A apologia da não vivência dos prazeres da vida consumista, porque tem que ser “o mínimo”, a refeição do jantar em família como essencial à existência do homem e da mulher – que somos muito inclusivos quando queremos – e as pragas dos ecrãs e influencers como encarnação do mal, são argumentos bem catitas para juntar aos clássicos burnout e trabalho a mais para justificar o não funcionar das famílias, por um psiquiatra que cita o DSM para enfiar disforia de género e neurodivergência no mesmo saco, não é para todos.

P.S. O capítulo tem por título “A família como escola de amor e transmissão de valores”. Não é doce?